Puros candidatos
"Estava a comprar peixe na praça, logo pela manhã, quando apareceu o primeiro; apertou-me a mão sem me olhar e, ao calhas, pespegou-me com um autocolante no peito. Ainda nem tinha escolhido os carapaus e já outro, entre dois abraços afiambrados, me deixava um emblema na lapela.
Coloquei o embrulho com os carapaus no fundo do saco e dei meia volta, depois de pagar. Nem tive tempo de respirar: ia deitando ao chão o terceiro, que, apesar disso, todo sorridente, me prometeu o melhor dos mundos com a oferta de um poster a cores.
À saída do mercado apareceu mais um, afogueado na distribuição de apertos de mão e esferográficas pindéricas com o emblema do partido. Cheguei a casa cheio de esperança e todo vistoso com as ofertas... ...O cheiro a peixe é que nunca mais desapareceu..."
(António Santos in "Os Sapos Vivos estão pela Hora da Morte"; edição "Gótica")
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