OS MAIORES DO MUNDO...
Estão a ver o resultado das maiorias absolutas?...
Então leiam a notícia publicada hoje (20.05.06) na primeira página do Expresso:
PENSIONISTAS PODEM FICAR SEM O 14º MÊS.
O Secretário de Estado do Orçamento, Emanuel dos Santos, alertou ontem em Coimbra para a possibilidade de os pensionistas deixarem de receber o subsídio de férias para ajudar a equilibrar o Orçamento de Estado. Uma decisão que não será fácil mas poderá ser inevitável, disse.
O TonecasPintassilgo mal leu isto foi ligar o televisor; certamente haveria já palavras de revolta generalizada, reacções de repúdio, posições das centrais sindicais, conferências de imprensa de toda a oposição, governantes a serem confrontados, notas e comunicados, depoimentos de economistas, trabalhadores, eu sei lá!...
Mas não:
Havia, sim, exaustivas reportagens sobre umas mulheres, todas contentes, vestidas de bandeira nacional e a formação por elas, na erva do Jamor, da "mais bela bandeira do mundo “... Uma decisão que, obviamente, não foi fácil, mas visivelmente inevitável...
Havia, sim, uma senhora que se chama Dona Fátima (parece que é apresentadora de televisão...) a dizer que tudo isto é motivo de orgulho nacional, incluindo os quilómetros de engarrafamentos e de carros parados, tudo ansioso por chegar lá, ao local da tal "mais bela bandeira do mundo"...
Havia, sim, imagens de mulheres, aflitas com o calor, no relvado do Jamor e ar de quem já pouco aguentava e não tardaria a desmaiar...
Havia, sim, outra senhora, também da televisão, que se chama Dona Rita qualquer coisa, a revelar que os jogadores portugueses ainda há pouco pareciam felizes como uma família...e a senhora Dona Fátima acrescentava, eufórica, que parece que se dão todos muito bem... (o senhor Emanuel, secretário de Estado, não estava presente, mas consta que também se dá bem...)
E havia, sim, reportagens em Évora, porque a cidade vai receber os futebolistas num estágio milionário, para ajudar a equilibrar a selecção, deve ser...
E havia, sim, reportagens sobre mais bandeiras, e mais hotéis, e mais euforia, e mais negócios, e mais relvados, e mais quartos com ar condicionado, e mais autógrafos, e mais tudo e tudo, e a "mais bela bandeira do mundo" a alastrar na relva, e a maior, e toda ela, e todas elas, e o treinador que afinal é pai dos jogadores, e tudo e tudo, e as mulheres em euforia, e as camisolas verdes, e os lenços encarnados, e vice versa, tanto faz, vai dar ao mesmo, e uma senhora, ainda esta manhã no café, ao meu lado, de Expresso na mão, a dizer-me já sem me distinguir bem:
"Está a ver o senhor no que dão as maiorias absolutas?..."
E ainda disse mais duas palavras, que, se calhar porque sou cobarde e não tenho a coragem dela, não consigo repetir aqui...
PARA COMPENSAR...
“Há muito que deixei aquela praia/
De grandes areais e grandes vagas/
Mas sou eu ainda quem na brisa respira/
E é por mim que espera cintilando a maré vasa”...("HÁ MUITO", de Sophia de Mello Breyner Andresen, in MAR)
É POR ESTAS E POR OUTRAS...
Inacreditável !...
Esta noite, pelas 20 horas, os três noticiários televisivos considerados como os mais importantes do dia, na RTP, SIC e TVI, tiveram, todos eles, a mesma notícia de abertura. E aquela notícia devia ser, realmente, de enorme dimensão nacional, de alcance inigualável, de importância decisiva para todos nós, essencial, mesmo, para a resolução de todos os nossos problemas económicos, sociais, laborais, e por aí fora, pois prolongou-se por cerca de...TRINTA minutos!!!
Não; não se tratou de qualquer notícia sobre a recuperação da economia, nem sobre a reabertura e dinamização das minas de Aljustrel, nem sobre medidas eficazes para combate ao desemprego, nem sobre uma política de envolvimento social generalizado e igualdade de oportunidades para todos, nem sobre um plano nacional para uma justiça mais célere e mais igualitária no país, nem sobre projectos decisivos para fazer frente à pobreza que aflige, pelo menos, DOIS milhões de portugueses, nem sobre a desejada melhoria, a todos os níveis, dos serviços de saúde em Portugal, nem sobre qualquer acção de coragem para lutar, de vez, contra as escandalosas fugas ao pagamento de impostos por parte de milhares de empresas que só declaram prejuízos, nem sobre decisões governamentais para obrigar os clubes de futebol a liquidarem os milhões que há largos anos devem ao fisco, nem sobre alguma campanha real de atacar corrupções e compadrios que infectam o desenvolvimento harmonioso do turismo nacional, nem sobre medidas corajosas e inteligentes para incrementar a leitura, a cidadania, a cultura, a educação, o bom gosto, a estética, o civismo, a aplicação das leis, a intensificação da solidariedade, o aumento da eficácia e do aproveitamento escolares...etc, etc, etc...
Não.
A notícia de abertura dos TRÊS telejornais e que em qualquer deles durou perto de TRINTA minutos...serviu (ainda por cima em transmissões directas...) para uns senhores com ar de vendedores ambulantes do Bairro do Relógio (sem ofensa para os verdadeiros vendedores, claro...) anunciarem os nomes (quase todos já conhecidos, aliás... ) dos jogadores de futebol para a selecção nacional...
Digam-me que não foi verdade! E que isto não aconteceu!
É que não consigo acreditar que isto tenha acontecido mesmo!
"A CRISE"...
"A manchete do Expresso sobre Freitas do Amaral é uma pequena canalhice jornalística: uma coisa é um ministro dizer que a sua agenda é fatigante, outra é dizer que está cansado do lugar". Assim escrevia Vital Moreira, no CAUSA-NOSSA.BLOGSPOT.COM/, em 07-05-06. E com razão.
Porém, o que o Expresso fez no último sábado não se trata apenas de "pequena canalhice", mas de grande falha deontológica! Repare-se que, ciente da não-notícia em causa, o próprio director (se continua a ser o director a fechar a primeira página do Expresso...) sentiu necessidade de "esvaziar" de conteúdo a força que, deliberadamente, deu à dimensão e impacto da manchete. Por isso a escreveu enorme na forma, mas redutora e banal na substância, coisa que, em condições de bom rigor jornalístico, apenas lhe daria entrada, a uma coluna, em qualquer página lá no interior do jornal: FREITAS CANSADO NO MNE. Reparem, é escrito NO...e não DO...o que é completamente diferente! Ainda se Freitas do Amaral tivesse revelado estar "cansado DO ministério" isso teria uma óbvia importância jornalística e política, a pedir título concordante. Mas assim?
O homem só disse o que qualquer colega do Governo, primeiro-ministro incluído, poderia calmamente dizer ao fim de 12 horas de trabalho, com agendas e compromissos oficiais de enorme intensidade e pressão; se qualquer deles não chegasse à noite completamente estoirado é que seria caso para desconfiar! O primeiro-ministro desabafar, pelas dez da noite, ao jantar, a olhar a sopinha de legumes, "xiça, estou estoirado... que dia! "...é perfeitamente natural. E não significa, por isso, que vá demitir-se na manhã seguinte, ou esteja farto do Governo. O mesmo se aplica tanto a Freitas do Amaral como a outros membros do executivo - incluindo as dores na coluna...
O que faz pensar...são outras coisas:
O que leva o Expresso a fazer aquela manchete ? E quem ?
É da responsabilidade de toda a direcção ? Só do director?
Teve o aval claro e inequívoco da jornalista que fez o trabalho? (também ela elemento da direcção do jornal).
Na véspera da saída do Expresso o que levou a mesma jornalista (autora da entrevista a Freitas do Amaral) estar em directo na Sic, a justificar-se, numa emissão que, nessa sexta-feira à noite, não parava de destacar a matéria, tudo temperado com velados fumos de "crise"?...
Teria o ministro dito que queria ir-se embora do Governo? Lendo a entrevista nada consta!...
E que jornalismo seguidista é este (há excepções, claro) que no dia seguinte, já de Expresso nas bancas, não forneceu um rasgo de sensatez aos "responsáveis" pelos noticiários das televisões que se perderam a fazer de caixa de altíssima ressonância da referida manchete?...
E, como escrevia David Pontes no JN de 07.05.06, a quem, no PS, teria Freitas do Amaral "roubado" o lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros?..
E que tontice passou depois pela cabeça de Freitas do Amaral, e seus colaboradores, para darem uma nota de inadmissível desorientação com conferências de imprensa marcadas e desmarcadas, comunicados, depoimentos, notas oficiais?...
E afinal teria sido tão simples:
Bastaria ao primeiro-ministro (naturalmente não falando por causa disso, mas aproveitando ser interrogado sobre o assunto, como o foi pelas frenéticas jornalistas dos gritinhos... ) reduzir a coisa à sua dimensão, evitando as arrumadinhas frases de solidariedade institucional que proferiu, para (e seria muito mais eficaz) dizer apenas, por exemplo:
" O Professor Freitas do Amaral está estoirado às nove e meia da noite? Sorte a dele; eu pelas sete, muitas vezes, já tenho a cabeça rebentada, imaginem !...Ahahah..."
E ponto final.