O PESCADOR DE GIRASSÓIS"Há aquele livro de capa azul, achado na praia onde os dois amantes querem viver juntos, um dia; ele quase ministro do Governo de Lisboa, ela no temor de o ver ser. Nem reparam que a tragédia se aproxima pelos dedos do pároco, personagem dado a misteriosas escavações arqueológicas, alta madrugada. Mas ao escrevinhador lá do sítio nada escapa: um sem-abrigo doutorado em economia, um cão apaixonado por jazz, até mesmo o homem que tropeçou no livro, na baixa-mar.
De secreto almoço em Londres, para desabafos políticos, soube-se pela televisão e foi um escândalo. Demitiu-se o ministro, escondeu-se o empresário.
Surpreendente e belo, cravado no fundo da morte, sempre apontando o mar, restaria o livro de capa azul, revelador."
Link para comentários, alguns recebidos no site da EDITORIAL PRESENÇA:
Jornal "EXPRESSO". 30 de Junho de 2007:
"Histórias de amor e desamor, de abandonos e fidelidades, sob o signo da mudança. É o primeiro romance de António Santos, cuja paixão e talento para a escrita tinham resultado evidentes quando da publicação dos textos colectivos de "As Noites Longas do FM Estéreo" e sobretudo do livro de contos "Os Sapos Vivos Estão pela Hora da Morte". Neste livro, o autor expõe-se e impõe-se ao deixar no papel o que a sua imaginação, aliada a um espírito atento e acutilante — fruto ou razão de 30 anos de jornalismo —, faz nascer das palavras. Lisboeta desde 1945, o facto de o emprego do pai lhe proporcionar, ainda criança, viagens por Portugal inteiro, associado a uma intemporal «mania da escrita», terão sido os ingredientes com que o tempo fez dele um excelente observador de factos e contador de histórias. Uma mistura explosiva da qual, mais cedo ou mais tarde, resulta um escritor. Sobretudo depois de, caminho feito na rádio e na televisão, ao aceitar o cargo de assessor de imprensa e coordenador de comunicação do então primeiro-ministro António Guterres, ter tomado a decisão de não voltar ao jornalismo.A opção de dar uma volta à vida, à carreira, parece ser o mote de O Pescador de Girassóis. Logo nas primeiras linhas ressalta, num registo singularmente onírico, que um vento de mudança tomou conta de Santo António da Ria, onde quer que se desconfie estar situado o lugar, e onde uma mão-cheia de personagens peculiares, fisicamente caracterizadas de uma forma curiosa e vestidas de diferentes tipos sociais, participam num desenrolar de acontecimentos entre o Café Arcada, na vila, e a esplanada Praia-Mar, nas dunas. Pedro Crato, o narrador, passa as tardes a apontar palavras e gatafunhos em «post-its» amarelos, a apreciar café da Jamaica, pistácios e cerveja gelada. Começa por relembrar a enigmática protagonista, Catherine Lobo, uma suíça de 37 anos, viúva de um português, que aparecia acompanhada pelo seu yorkshire todos os dias, Inverno ou Verão, pelas 6 da tarde. O que o rabiscador de «post-its» ignorava, então, era o improvável encontro havido em Istambul entre a misteriosa Catherine e um tal Fernando Gonçalo Porto, 40 anos, chefe de gabinete do ministro da Qualidade, então, e na altura dos acontecimentos ministro indigitado. Em torno destas, gravitam outras personagens igualmente interessantes, como Teresa Fonseca, advogada que sonha ser jornalista, Desidério Fonseca, estranho sem-abrigo doutorado em Economia e o seu cãozinho labrador de pêlo castanho-claro que gosta de jazz. Sem esquecer Celestino Boavida, padre que faz escavações arqueológicas clandestinas na sua igreja, e o velho pescador que pinta girassóis na proa do seu barco, preparando-o e preparando-se para um dia meter as velas rumo à linha do horizonte.Tudo isto no rigoroso tempo de um romance envolvente, marcado por acontecimentos inesperados, circunstanciais, repentinos, que se sobrepõem e desencadeiam uma história de amor e perda, antiga como o mundo e que o faz rodar. Um livro de síntese, analisada a vida enquanto, no barco imaginário, esta se vai aproximando da beira do mar. " Fonte: Expresso - Actual/Luísa Mellid-Franco.
"SEMANÁRIO ECONÓMICO" - 06 de Julho de 2007:
"O primeiro romance de António Santos surpreende, e pela positiva. Em "O Pescador de Girassóis”, o autor consegue dar às personagens uma dimensão que quase as faz saltar para fora da narrativa, tais os pormenores peculiares com que são construídas. Há um homem que passa os dias a escrevinhar em post-its amarelos numa esplanada à beira-mar. Há também uma, advogada atirada para uma cadeira de rodas que passa as tardes nessa mesma esplanada a estudar para o curso de comunicação social. Um sem abrigo especialista em preencher declarações de IRS, que partilha com um cão abandonado o gosto e o entendimento por jazz. Ainda há um chefe de gabinete de um ministério que se sente fora do seu mundo e que, a dada altura, se depara com um dilema: o amor ou a carreira? Depois há também uma mulher, companheira de afectos do tal responsável ministerial, e que todos os dias à mesma hora passeia com o seu cão pelo areal da praia.As pequenas coisas que constroem as personagens vão-se revelando pouco a pouco. Contribuem para o avançar do enredo e aguçam a curiosidade do leitor para conhecer um pouco melhor as figuras verosímeis que povoam a narrativa. E por falar em curiosidade, falta referir as acções de um padre, que na sua ânsia de descobrir coisas novas acaba por "precipitar a desgraça". É que em "O Pescador de Girassóis" até os aparentes acasos da trama são muito mais que acasos.As personagens têm um espaço em comum. Desaguam na vila de Santo António da Ria, "à beirinha da Ria Formosa". E é na praia dessa localidade que aparece um velho pescador, com uma descrição física a fazer lembrar o protagonista de "O Velho e o Mar" de Hemingway. A empreitada do marinheiro é a reconstrução de um batel para se poder fazer ao mar "uma tarde, pelo pôr-do-sol, até se pôr com ele para lá do fio do horizonte". Um trabalho ao estilo da tapeçaria de Penélope: "Fazia séculos – até parecia – que o velho marinheiro andava naquilo". No fundo, ninguém acreditava que a reconstrução terminasse. Mas o velho, apesar de parecer não estar directamente relacionado com o enredo, marca-lhe o ritmo, como se fosse o pêndulo de um metrónomo a pautar a sinfonia narrativa das personagens. Um dia ele acabará por fazer-se ao mar no seu batel com dois grandes girassóis amarelos pintados na proa, mas isso só acontecerá quando os pequenos detalhes da narrativa estiverem encaixados". Fonte: Semanário Económico - Casual/ Rui Barroso
JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS- Jornalista, escritor:
"Livro excelente, com elegante e surpreendente técnica de escrita, agradabilíssimo de ler tal o requinte da palavra. Desde a emocionante dedicatória, das mais belas que conheço, António Santos leva o leitor por uma fascinante rede de progressivo cruzamento de personagens, personagens que vai fazer desembocar em tragédia numa pacata vila algarvia, à beira mar. Com nítidos traços autobiográficos, há aqui, também, amargos desencantos, sobretudo nos mistérios da política, do jornalismo, da própria vida.É inegavelmente, em minha opinião, um livro que vale a pena”.
"AR":
"Um achado. Uma calmaria aparente. Uma técnica narrativa apurada. Uma escrita aveludada que massaja os sentidos. Uma suavidade balsâmica. Um tocar de alma leve como um suspiro. Um contraste entre o estilo de escrita e as experiências das personagens. Que se elas se agitam e entusiasmam e decidem e emocionam e dividem e rompem e hesitam e sentem, o leitor recebe directamente essas sensações, sem o filtro do autor. Um autor com uma sensibilidade e tacto que lhe permite desaparecer. Umas personagens que se aconchegam em nós. Que são depositadas no leitor para que ela as sinta como puder e as digira como quiser. Um copo de vinho e uma lareira."