"País engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano. / País dos gigantones que passeiam a importância e o papelão / inaugurando esguichos no engonço do gesto e do chavão. / E ainda há quem os ouça, quem os leia, / lhes agradeça a fontanária ideia"
(Alexandre O´Neill in O País Relativo")
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Não sou acaso timoneiro? - exclamei.
-Tu? - perguntou um homem alto e escuro, e passou as mãos pelos olhos, como se dissipasse um sonho.
Eu estivera ao timão em noites escuras, com a débil luz do farol sobre a minha cabeça, e agora tinha vindo aquele homem e queria pôr-me de lado. E como eu não cedesse, pôs o pé sobre o meu peito e empurrou-me lentamente contra o solo, enquanto eu continuava sempre aferrada à roda do timão e a arrancava ao cair. Então o homem apoderou-se dela, pô-la em seu lugar e me deu um empurrão, afastando-me. Refiz-me depressa, contudo, fui até a escotilha que levava ao alojamento da tripulação, e gritei:
-Tripulantes! Camaradas! Venham depressa! Um estranho tirou-me do timão!
Chegaram lentamente, subindo pela escadinha, eram formas poderosas, oscilantes, cansadas.
-Sou eu o timoneiro? - perguntei.
Assentiram, porém apenas tinham olhares para o estranho, ao qual rodeavam em semicírculo, e quando com voz de mando ele disse: "Não me aborreçam", reuniram-se, olharam-me assentindo com a cabeça e desceram outra vez a escadinha. Que povo é este? Pensa também, ou apenas se arrasta sem sentido sobre a terra?
Franz Kafka
Ainda há quem os oiça, quem os leia...assim sendo, cada vez se arrastam mais...autênticos camaleões (que me perdoe o Réptil lacertílio, da família dos camalentídeos).
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